segunda-feira, 7 de maio de 2007

MATERIA NO JORNAL HOJE DA GLOBO

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Sábado , 05 de Maio de 2007

Balada de Jesus

Neide Duarte




É uma festa de jovem quase como outra qualquer: tem música alta, iluminação especial e drinks coloridos. Mas em Itaquera, zona leste de São Paulo, a maior diversão da noite é pra quem tem fé.

Entre os jovens que esperam para dançar na discoteca, tudo parece estar dentro da mais perfeita normalidade. Mas ali, na noite que anuncia a balada, já está o sinal: um coro de meninas entoa ‘Hey, hey, Jesus é nosso Rei”.
É uma discoteca, mas não rola cerveja. Aliás, nada de álcool. Só rolam drinks, cristodrinks. Um deles leva o nome de “Apocalipse”: é feito de suco de uva, energético e leite condensado.

Tudo em nome de Cristo: para beber, cristodrinks; para dançar, Cristoteca.

No mesmo espaço onde o DJ realiza o seu ofício, a hóstia é consagrada pelo padre. E uma multidão espera pela comunhão.

Num outro espaço, ao lado do grande salão, tem um confessionário. “A gente vem pra Cristoteca para dançar de noite, e durante a espera das apresentações a gente participa de um momento de confissão, para comungar Jesus”, diz a operadora de telemarketing Priscila das Chagas. “Depois da confissão eu vou dançar a noite toda. Eu vim pra dançar, pra me divertir”.

A noite é da juventude católica. Na Cristoteca, diversão e devoção vivem juntas. Valéria, Meire e outras meninas que vibram com a música da Cristoteca fazem parte de um grupo de juventude da Paróquia de São José, em Itaquera, zona leste de São Paulo. “A gente dança para agradar Jesus”, conta uma delas.

Escola de Samba
Visitamos a Cristoteca no dia do pai de Jesus, São José. Na noite de pouca luz de Itaquera, tem missa e procissão. Toda a vida da comunidade pára, em respeito ao santo que passa.

E na festa, de santo católico, cabe tudo – inclusive a presença dos meninos e meninas da Escola de Samba Dom Bosco. Um dos fundadores e atual presidente da Escola é o próprio padre da Paróquia. “Ali nós acolhemos aqueles jovens que tem dificuldade na disciplina, na questão de horário, na questão de método. Ali, eles são príncipes. Eles são até reis ali, porque o samba os realiza, os promove”, diz o padre.

“Meu nome é Rafael, tenho 17 anos, gosto da Dom Bosco e freqüento muito a Igreja. De vez em quando eu vou jogar bola, e minha mãe briga comigo pra eu ir pra igreja. Mas eu gosto mais de dançar e tocar, entendeu?”, conta um dos meninos.

Na igreja, a missa continua. As moças voltam com novos passos. Roupas que se usavam na Galiléia, no tempo de Jesus, fazem parte de uma encenação. “A gente acaba chamando a atenção dos jovens, que hoje infelizmente estão muito afastados da igreja”, acredita Amanda, de 18 anos.

“Ser católico é você fazer algo para que as pessoas percebam o quanto Deus é importante, o quando a igreja vale a pena. É diferente de você só querer sair, fazer fuzuê”, concorda Valéria, 19 anos.

Na Paróquia, onde a magia do teatro permite que São José assista a missa ao nosso lado, o menino Breno pôde um dia representar o menino Jesus. Apesar de seus apenas cinco anos de idade hoje, ele percebeu a importância de ter sido o ator. “Meu coração estava batendo muito!”, ele conta.

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